1. Como tudo começou (1984-1989)
É com alguma emoção que relembro o meu primeiro contacto com as artes marciais... Devia ter cerca de 4 ou 5 anos quando o meu pai me perguntou se queria ir para a aula de karate... Ele já praticava no Ginásio Clube Português, tendo na altura, se bem me lembro o cinto azul. Embora já não me recorde de qual terá sido a minha resposta, calculo que tenha sido afirmativa e lembro que a ideia foi por mim aceite com excitação... Associei logo a arte com o que tinha conhecimento dos filmes e embora não fizesse a mínima ideia do que era o karate (penso mesmo que fiz uma pergunta do género “O que é isso?”) sei que passei o resto do dia aos pulos, não só de contentamento, mas também de imitação do que teria visto nos filmes. Lembro também que antes de iniciar a prática, fiz questão de ter o kimono (a minha primeira aula foi já ela feita de kimono). |
Guardo também algumas recordações do meu primeiro dia de aulas, principalmente o meu principal receio na altura: A aula decorria durante a aula dos adultos, numa sala ao lado, pelo que teria de ficar sozinho. Ao que parece tive sorte, pois o meu primeiro dia coincidiu com o dia em que as aulas dos infantis passaram a decorrer após a aula dos adultos.
Não me lembro propriamente da primeira aula, mas recordo que foi o meu pai que me vestiu o kimono, bem como o meu primeiro contacto com o Ginásio Clube Português (GCP) e do saquinho preto onde levei o kimono... até me recordo do trajeto que fizemos para ir para o GCP!
Foi neste dia que conheci aquele que durante bons anos seria o meu mestre de artes marciais – Luís Cunha, um dos pioneiros do karate em Portugal, personalidade que dirigia a minha aula, e responsável por aquela que durante cerca de 15 anos seria a minha escola de karate – Escola Tradicional de Karatedo (ETK) - entretanto já extinta.
Das mãos de Luis Cunha recebi um poster com o símbolo da ETK e as atitudes do estudante sincero. Foi-nos na altura pedido para o colorirmos e colocarmos no nosso quarto. Assim o fiz e assim o mantive até há bem pouco tempo.
Embora tenha sido este o dia do meu primeiro contacto físico com as artes marciais – karatedo – o facto do meu pai já ser praticante e por vezes participar nos estágios que se realizavam à noite, levando-me a ter de ficar sozinho em casa com a minha mãe, desde muito cedo me levou a conhecer o sacrifício que a sua prática obriga.
A partir deste primeiro dia, uma nova rotina entrou na minha vida: Todos os Sábados, de manhã, era dia de aula no Ginásio Clube Português...
Embora possa não parecer significativo, na realidade, este facto fez com que tivesse tido uma infância algo diferente da das outras crianças... De semana, no recreio da escola, era tema de conversa o episódio dos desenhos animados que tinham passado na televisão durante a manhã de Sábado, mas estando no treino nunca tive hipótese de acompanhar este espaço infantil... Lembro-me que já na escola primária, nas alturas de festa, organizava a pedido dos meus colegas e em conjunto com eles, pequenas demonstrações de karate para toda a turma.
Não me lembro propriamente da primeira aula, mas recordo que foi o meu pai que me vestiu o kimono, bem como o meu primeiro contacto com o Ginásio Clube Português (GCP) e do saquinho preto onde levei o kimono... até me recordo do trajeto que fizemos para ir para o GCP!
Foi neste dia que conheci aquele que durante bons anos seria o meu mestre de artes marciais – Luís Cunha, um dos pioneiros do karate em Portugal, personalidade que dirigia a minha aula, e responsável por aquela que durante cerca de 15 anos seria a minha escola de karate – Escola Tradicional de Karatedo (ETK) - entretanto já extinta.
Das mãos de Luis Cunha recebi um poster com o símbolo da ETK e as atitudes do estudante sincero. Foi-nos na altura pedido para o colorirmos e colocarmos no nosso quarto. Assim o fiz e assim o mantive até há bem pouco tempo.
Embora tenha sido este o dia do meu primeiro contacto físico com as artes marciais – karatedo – o facto do meu pai já ser praticante e por vezes participar nos estágios que se realizavam à noite, levando-me a ter de ficar sozinho em casa com a minha mãe, desde muito cedo me levou a conhecer o sacrifício que a sua prática obriga.
A partir deste primeiro dia, uma nova rotina entrou na minha vida: Todos os Sábados, de manhã, era dia de aula no Ginásio Clube Português...
Embora possa não parecer significativo, na realidade, este facto fez com que tivesse tido uma infância algo diferente da das outras crianças... De semana, no recreio da escola, era tema de conversa o episódio dos desenhos animados que tinham passado na televisão durante a manhã de Sábado, mas estando no treino nunca tive hipótese de acompanhar este espaço infantil... Lembro-me que já na escola primária, nas alturas de festa, organizava a pedido dos meus colegas e em conjunto com eles, pequenas demonstrações de karate para toda a turma.
Desta classe infantil pioneira da ETK, creio que sou o único actualmente a praticar. Entre os meus colegas de prática estavam os filhos de Luis Cunha e de Luís Silva Carvalho – outro dos mestres que sem dúvida marcou o meu percurso pelas artes marciais. Era no fundo inicialmente uma classe formada por filhos de instrutores.
No ano seguinte à minha entrada para o karatedo, o meu pai abriu o seu primeiro dojo na minha área de residência. Embora estivesse presente em todas as aulas, a maior parte do meu tempo era aqui ocupada a brincar nos colchões e a observar o treino dos adultos... Continuei contudo com o meu treino regular aos Sábados no Ginásio Clube Português. Foi com cerca de 10 anos que participei nos primeiros exames de graduação para infantis da Escola Tradicional de Karatedo, tendo atingido diretamente a graduação de cinto laranja (fui portanto cinto amarelo apenas durante uns escassos minutos). Dos longos anos em que fui cinto branco, apenas posso dizer que só me fizeram bem, pois trabalharam a humildade e o facto da côr do cinto não mudar não signiicou que o meu aperfeiçoamento e aumento de conhecimento não se registasse. Seguiu-se então um período de prática regular, não só ao Sábado (no GCP – Lisboa), mas também durante a semana, nos dojos do meu pai, entretanto ampliados no concelho de Vila Franca de Xira. |
2. O Contacto com Kenji Tokitsu (1989-1995)
Foi sensivelmente por esta altura que conheci uma outra referência sem dúvida marcante para a minha prática. A convite da direção da ETK e de Luís Cunha, Kenji Tokitsu vem pela primeira vez a Portugal dirigir um estágio.
A nossa forma de praticar karate já era diferente da mais conhecida na altura – Shotokan: Os movimentos eram mais suaves e descontraídos, privilegiando-se a respiração. A partir deste momento adotámos o método deste investigador, uma arte marcial então denominada Jisei Budo, que acompanhei entusiasticamente durante longos anos. Com ele conheci artes como o Tai Chi Chuan, o Chi Kung (ginástica energética), o Kenjutsu (sabre japonês), o Da Cheng Chuan e o Método de Hida. Mas nem tudo foram rosas, ou se o são, há que não esquecer que algumas rosas têm espinhos. Aquando dos meus 14 anos, altura em que era 5º Kyu (cinto azul), durante uma aula, fraturei a tíbia-tarso, quando num exercício de combate ao recuar coloco mal pé no limite da alcatifa. Tal obrigou-me a suspender a prática por cerca de 3 meses. |
Seguiu-se então um novo período na minha prática em que fui atingido por várias lesões. No ano seguinte (15 anos, 4º Kyu, cinto vermelho), aquando de um exercício de combate com o meu pai, e ao efetuar uma rotação sobre o pé de apoio, faço uma rotura de ligamentos e deslocamento da rótula ao nível do joelho que me forçou a uma paragem brusca e duradoura. Estávamos em janeiro, e só vim a poder retomar a prática, ainda com bastantes dores e limitações, em maio.
Foi um período conturbado, com lesões frequentes... O próprio exame para 3º Kyu (primeiro castanho, 16 anos), foi realizado com algumas dores, marca das lesões anteriormente ocorridas. Não mais fui o mesmo, encontrando-me num período algo desmotivante... Pensei mesmo que não conseguiria progredir mais dadas as limitações físicas que tinha... pensei em deixar de usar o cinto castanho e passar a usar o cinto branco, não porque achasse que não o merecesse, mas por achar que não seria mais capaz de progredir.
Foi um período conturbado, com lesões frequentes... O próprio exame para 3º Kyu (primeiro castanho, 16 anos), foi realizado com algumas dores, marca das lesões anteriormente ocorridas. Não mais fui o mesmo, encontrando-me num período algo desmotivante... Pensei mesmo que não conseguiria progredir mais dadas as limitações físicas que tinha... pensei em deixar de usar o cinto castanho e passar a usar o cinto branco, não porque achasse que não o merecesse, mas por achar que não seria mais capaz de progredir.
3. Período de reflexão sobre a prática (1995-1999)
Aproveitei contudo este tempo para ler e refletir sobre a minha prática... peguei no meu dossier, onde arquivo textos vários, afins à temática das artes marciais e comecei a ler todos os textos de que dispunha... Foi então nesta altura que reforcei o meu contacto com as práticas internas – Tai Chi, Chi Kung... – e achei que poderia estar ai o meu futuro... passei então a concentrar-me nessas práticas que não só exigiam menos esforço no domínio físico, pelo que as minhas limitações não eram tão intensas, mas também poderiam permitir através do seu efeito terapêutico, alguma forma de recuperação.
Li então um texto que fazia referência ao mestre Harumitsu Hida: Também ele teria sido uma pessoa frágil e doente, que através da prática de exercícios específicos havia conseguido um reforço fantástico da vitalidade do seu corpo, atingindo mesmo capacidades fora do comum...
A minha aposta nos exercícios internos, estava então delineada. E realmente, graças a uma prática mais cuidada e equilibrada, e um reforço ao nível principais áreas afetadas, consegui atingir um nível nunca por mim antes alcançado que me permitiu não só a graduação de segundo castanho, mas também, aos 20 anos, terceiro castanho.
O contacto com artigos vários, da autoria de mestres conceituados, veio aumentar a minha bagagem teórica permitindo não só uma melhor compreensão da arte mas também uma melhor assimilação dos exercícios, através de novos modelos mentais.
Paralelamente a todos estes factos, que caracterizaram a minha prática enquanto aluno, sempre estive ligado às mais diversas iniciativas, como sejam estágios, demonstrações entre outros, não só enquanto participante, mas também como organizador.
A este título, lembro alguns episódios engraçados, como seja uma demonstração no Pavilhão dos Desportos (atual pavilhão Carlos Lopes) transmitida pela RTP em que fiz toda a demonstração com uma dor num pé; uma demonstração em que por força das circunstâncias, tive de vestir umas calças do kimono do meu pai, que me estiveram sempre a cair, obrigando-me a estar constantemente a segura-las; uma demonstração em que aquando de um exercício de combate sofro uma deslocação da rótula do joelho, tendo continuado, na medida do possível, o esquema; mais recentemente uma demonstração em que logo no início tenho uma cãibra no músculo da perna e fico com dores o resto da demonstração; ou várias outras onde ocorrem lapsos de memória que me levam a improvisar, ou ainda uma em que o colega em vez de me projetar, como estava previsto, fica simplesmente parado a olhar para mim...
Li então um texto que fazia referência ao mestre Harumitsu Hida: Também ele teria sido uma pessoa frágil e doente, que através da prática de exercícios específicos havia conseguido um reforço fantástico da vitalidade do seu corpo, atingindo mesmo capacidades fora do comum...
A minha aposta nos exercícios internos, estava então delineada. E realmente, graças a uma prática mais cuidada e equilibrada, e um reforço ao nível principais áreas afetadas, consegui atingir um nível nunca por mim antes alcançado que me permitiu não só a graduação de segundo castanho, mas também, aos 20 anos, terceiro castanho.
O contacto com artigos vários, da autoria de mestres conceituados, veio aumentar a minha bagagem teórica permitindo não só uma melhor compreensão da arte mas também uma melhor assimilação dos exercícios, através de novos modelos mentais.
Paralelamente a todos estes factos, que caracterizaram a minha prática enquanto aluno, sempre estive ligado às mais diversas iniciativas, como sejam estágios, demonstrações entre outros, não só enquanto participante, mas também como organizador.
A este título, lembro alguns episódios engraçados, como seja uma demonstração no Pavilhão dos Desportos (atual pavilhão Carlos Lopes) transmitida pela RTP em que fiz toda a demonstração com uma dor num pé; uma demonstração em que por força das circunstâncias, tive de vestir umas calças do kimono do meu pai, que me estiveram sempre a cair, obrigando-me a estar constantemente a segura-las; uma demonstração em que aquando de um exercício de combate sofro uma deslocação da rótula do joelho, tendo continuado, na medida do possível, o esquema; mais recentemente uma demonstração em que logo no início tenho uma cãibra no músculo da perna e fico com dores o resto da demonstração; ou várias outras onde ocorrem lapsos de memória que me levam a improvisar, ou ainda uma em que o colega em vez de me projetar, como estava previsto, fica simplesmente parado a olhar para mim...
4. Instituto Nacional Tao Budo (1999-2003)
Todos estes factos, vieram, contudo, garantir que adquirisse uma certa experiência que permitiu que iniciasse a minha carreira como assistente, quando ainda era 4º Kyu (cinto vermelho) e finalmente, como docente aos 18 anos, quando era segundo castanho (2º Kyu).
Esta experiência aliada ao desejo de alargar o clube dos alunos de karatedo que havia criado enquanto criança, destinado a todos os praticantes de artes marciais dos nossos dojo, seus familiares e amigos, bem como a necessidade de preencher algumas lacunas existentes, estiveram em 1999, na base da iniciativa de criar um Instituto - Instituto Tao Budo -, todo ele centrado na prática de artes marciais e de desportos orientais. Esta ideia não terá sido bem aceite por alguns, e se havia alguns aspetos que não me vinham a agradar, a partir desta altura pioraram. |
Nunca esperei ser publicamente admirado nem condecorado pela minha dedicação à arte. Acho que o meu verdadeiro prémio consiste no que adquiri pela prática e que uma medalha apenas significa que temos sorte, já que alguém se lembrou de nos a oferecer. Mas achei que merecia maior respeito e atenção. Que devia ter uma melhor receção por aqueles que durante tanto tempo admirei e segui.
Para mim as artes marciais sempre estiveram mais na atitude do que nos exercícios, que a devem refletir e por considerar que tal não vinha a ser devidamente cumprido encontrei neste momento uma forte desilusão.
Foi então que resolvi iniciar a minha caminhada solitária pelos terrenos da reflexão e prática. Institui então a associação que havia criado como organismo responsável pela prática e formação que organizava.
Não foram períodos fáceis. Apesar de todos os alunos terem estado de acordo com esta medida, houve alguns que resolveram seguir o seu caminho de outra forma. Alguns dos quais considero terem aprendido tudo comigo, e terem sido sempre por mim aceites com dignidade.
Foi também um período perigoso. Quando nós somos responsáveis por nós próprios temos que ser mais exigente e por muito cómoda que seja sentarmo-nos a ver e a dirigir com base no que já sabemos, é importante levantarmo-nos e continuar a nossa procura e formação.
Para mim as artes marciais sempre estiveram mais na atitude do que nos exercícios, que a devem refletir e por considerar que tal não vinha a ser devidamente cumprido encontrei neste momento uma forte desilusão.
Foi então que resolvi iniciar a minha caminhada solitária pelos terrenos da reflexão e prática. Institui então a associação que havia criado como organismo responsável pela prática e formação que organizava.
Não foram períodos fáceis. Apesar de todos os alunos terem estado de acordo com esta medida, houve alguns que resolveram seguir o seu caminho de outra forma. Alguns dos quais considero terem aprendido tudo comigo, e terem sido sempre por mim aceites com dignidade.
Foi também um período perigoso. Quando nós somos responsáveis por nós próprios temos que ser mais exigente e por muito cómoda que seja sentarmo-nos a ver e a dirigir com base no que já sabemos, é importante levantarmo-nos e continuar a nossa procura e formação.
5. O aparecimento da Academia e da Federação (2003-2017)
Foi uma altura de análise que por dissecação da arte inicial surgiram novas artes: O Tao Do, um desporto adaptado para todas as idades centrado nas técnicas de respiração e relaxação, a Defesa Pessoal, mais centrada nas técnicas de combate a corpo-a-corpo e com amas, e o Gym Fighting, a combinação do ritmo da dança e da música com os movimentos das artes marciais.
Entretanto, outro problema surgiu: Havia necessidade de estarmos integrados numa Federação, por outro lado nenhuma federação dava resposta cabal às nossas necessidades. Em primeiro lugar porque para nós uma arte marcial é muito diferente de desporto, começando logo pelo facto de não preconizarmos a competição.
Entretanto terminei a minha licenciatura em Psicologia Clínica pela Universidade de Lisboa e em 2003 fiquei mais próximo da Medicina Tradicional Chinesa através da Associação Portuguesa de Acupunctura e Disciplinas Associadas, dirigida por Pedro Choy.
Após este período inicial, de 1999 a 2002, em que surgiram novas artes, entrou-se num período final de convergência que veio a definir uma nova arte supostamente, mais integrada: Aparece então o Kyubudo, uma arte radicada no karatedo, mas que reúne conhecimentos de outras artes japonesas, chinesas e indianas.
A esta arte chamei inicialmente Karate Budo, para que quem não domina as artes possa perceber que existem algumas afinidades ao karate, mas que, por a este não se limitar acabaria a ficar registada como Kyubudo. Com vista à integração destas modalidades, o Instituto passou a abarcar uma valência federativa, passando a denominar-se por Instituto Nacional Tao Budo.
Durante vários anos realizamos diversos exames de graduação e vários cursos de formação de agentes de ensino que permitiram formar vários praticantes. Participantes em diversos eventos mediáticos, como seja o Festival Super Bock Super Rock, a realização de supervisão técnica de sessões fotográficas para a marca Nike ou para a telenovela "Feitiço de Amor" (TVI) onde a falecida atriz Maria João Abreu interpretava uma personagem que ensinava Tai Chi.
Seguiu-se então um período eminentemente académico, em que estive particularmente empenhado na realização simultânea de dois doutoramentos (em Neuropsicologia Clínica pela Universidade de Salamanca, Espanha, e em Psicologia Clínica pela Universidade de Lisboa) e de uma licenciatura (Licenciatura em Gestão, pela Universidade Aberta) seguida pela realização do pós-doutoramento em Psicologia da Educação pela Universidade de Coimbra.
Entretanto, muita coisa mudou no paradigma nacional do desporto em geral e das artes marciais em Portugal e com a nova Lei de Bases do Desporto, o Instituto Nacional Tao Budo acabou por não se ajustar às necessidades reais legislativas, tendo sido extinto em 2019 - curiosamente, exatamente 20 anos após a sua fundação.
Entretanto, outro problema surgiu: Havia necessidade de estarmos integrados numa Federação, por outro lado nenhuma federação dava resposta cabal às nossas necessidades. Em primeiro lugar porque para nós uma arte marcial é muito diferente de desporto, começando logo pelo facto de não preconizarmos a competição.
Entretanto terminei a minha licenciatura em Psicologia Clínica pela Universidade de Lisboa e em 2003 fiquei mais próximo da Medicina Tradicional Chinesa através da Associação Portuguesa de Acupunctura e Disciplinas Associadas, dirigida por Pedro Choy.
Após este período inicial, de 1999 a 2002, em que surgiram novas artes, entrou-se num período final de convergência que veio a definir uma nova arte supostamente, mais integrada: Aparece então o Kyubudo, uma arte radicada no karatedo, mas que reúne conhecimentos de outras artes japonesas, chinesas e indianas.
A esta arte chamei inicialmente Karate Budo, para que quem não domina as artes possa perceber que existem algumas afinidades ao karate, mas que, por a este não se limitar acabaria a ficar registada como Kyubudo. Com vista à integração destas modalidades, o Instituto passou a abarcar uma valência federativa, passando a denominar-se por Instituto Nacional Tao Budo.
Durante vários anos realizamos diversos exames de graduação e vários cursos de formação de agentes de ensino que permitiram formar vários praticantes. Participantes em diversos eventos mediáticos, como seja o Festival Super Bock Super Rock, a realização de supervisão técnica de sessões fotográficas para a marca Nike ou para a telenovela "Feitiço de Amor" (TVI) onde a falecida atriz Maria João Abreu interpretava uma personagem que ensinava Tai Chi.
Seguiu-se então um período eminentemente académico, em que estive particularmente empenhado na realização simultânea de dois doutoramentos (em Neuropsicologia Clínica pela Universidade de Salamanca, Espanha, e em Psicologia Clínica pela Universidade de Lisboa) e de uma licenciatura (Licenciatura em Gestão, pela Universidade Aberta) seguida pela realização do pós-doutoramento em Psicologia da Educação pela Universidade de Coimbra.
Entretanto, muita coisa mudou no paradigma nacional do desporto em geral e das artes marciais em Portugal e com a nova Lei de Bases do Desporto, o Instituto Nacional Tao Budo acabou por não se ajustar às necessidades reais legislativas, tendo sido extinto em 2019 - curiosamente, exatamente 20 anos após a sua fundação.
6. Federação Internacional de Artes Marciais para o Desenvolvimento Pessoal (2017-2018)
Em janeiro de 2017, em conjunto com colegas de várias artes marciais, liderei o projeto que levou à criação da Federação Internacional de Artes Marciais para o Desenvolvimento Pessoal cujo objeto social consistia, nomeadamente, em dirigir, promover, incentivar e regulamentar a prática e ensino de artes marciais e disciplinas associadas enquanto forma de desenvolvimento pessoal em que se entendia por "desenvolvimento pessoal" a melhoria do autoconhecimento, da autoestima, da qualidade de vida, da saúde e das competências sociais e humanas, incluindo nestes objetivos as artes marciais e disciplinas associadas praticadas e ensinadas na sua perspetiva cultural, filosófica e terapêutica excluindo-se a componente desportiva e/ou competitiva.
Esta Federação foi criada com a melhor das intenções, mas infelizmente teve uma vida muito curta, fruto da diversidade das artes que a constituíam e de alguns dos seus membros não terem conseguido lidar com as diferenças, acabando por ser extinta logo no ano seguinte - em 2018. |
A Fundação desta Federação coincidiu novamente com um período conturbado em que, após uma pequena queda causada pelo pavimento molhado pela chuva, sofri novamente uma grave lesão com uma dupla rotura de ligamentos do joelho - rotura do ligamento cruzado anterior (LCA) seguida do ligamento da rótula com graves consequências na autonomia pessoal que me impossibilitaram de conduzir por cerca de 3 meses e causando graves restrições na locomoção, necessitando de vários meses de fisioterapia, enquanto forma de evitar o tratamento cirurgico.
7. Programa Wellness e perda de peso (2018-2021)
Á semelhança do que já havia acontecido em outros momentos, seguiu-se um novo momento de reflexão e de mudança de hábitos de vida. Lembro-me de me ter sido sugerida a realização de tratamento cirúrgico à rotura de ligamentos e de ter comentado com o colega, ortopedista "não gosto nada de operações" ao qual ele me retorquiu, meio na brincadeira, "Nem eu! Só gosto é de operar (os outros)". Acabámos os dois na risota. De facto, sempre disse, numa cirurgia sabemos como entramos, mas por muita confiança que exista e avançada que esteja a medicina, nunca sabemos como termina, dependendo o sucesso de qualquer cirurgia de múltiplos fatores.
Recordo-me também do médico que me assistiu nas urgências me ter confessado que também ele havia sofrido, há alguns anos, uma rotura do LCA e que, também a ele, lhe havia sido sugerido o tratamento cirúrgico. Ele optou pela hipótese conservadora e sobretudo pela perda de peso. Chegou mesmo a mostrar-me a foto do cartão da Ordem dos Médicos, onde se via um individuo obeso, que nada tinha a ver com aquela figura magra que tinha à minha frente. Foi então que pensei: Se ele tinha conseguido, porque é que eu não havia de conseguir? Resolvi então adotar um programa rigoroso de restrição alimentar e exercício físico - que esteve na base na criação do Programa Wellness e na publicação do livro com o mesmo nome, inclusivamente apresentado no programa Fátima Lopes (TVI) - e em cerca de 9 meses perdi cerca de 45Kg. |
8. Kaizen Dojo (2021 à atualidade)
Desde então, tenho mantido uma prática continua e regular de exercício físico, com vista a manter a condição física que havia atingido. Todos os dias realizo cerca de 500 a 900 abdominais, complementados flexões, por exercícios de musculação (com barra) e electroestimulação (EMS).
Entretanto, em 2021 adquiro novas instalações para o Instituto do Conhecimento, com cerca de 300m2 que passam a contemplar um dojo e um ginásio que vem permitir uma maior autonomia na prática do Kyubudo e respetivas disciplinas. O dojo recém criado viria a ser batizado como Kaizen Dojo [改善 道場] - i.e., o dojo do aperfeiçoamento continuo. Esta autonomia veio permitir o redescobrir das verdadeiras tradições das artes marciais, em que a prática é norteada não com intuitos comerciais mas sim pelo mérito e interesse dos alunos. Tal explica a tabela de preços simbólica do Kaizen Dojo, em que nenhum aluno se sentirá impedido da prática de Kyubudo e disciplinas associadas por razões económicas, mas que também apenas os alunos que se identifiquem verdadeiramente com os princípios serão acolhidos. |
Entretanto em 2023 são criadas a Associação Kyubudo Ryu Portugal, que representa o Kyubudo e disciplinas associadas em Portugal e a International Kyubudo Ryu Federation que regula estas modalidades a nível mundial. Procede-se à redefinição do Ball Kombat (até então denominado Kick Ball, também conhecido por Combate da Bola ou Bōru Tatakai) - um jogo que se destina a aplicar os conhecimentos em contexto lúdico e através do qual são desferidas técnicas de artes marciais ao jogador que se encontra na posse de uma bola e introduzido o Animal Walk (também conhecida por Marcha dos Animais ou Dōbutsu Hokō) - num método que trabalha a postura corporal e a deslocação inspirando-se nos movimentos espontâneos dos animais.